terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Alívio

Ela voltava do serviço às 20:00, mas hoje teve que fazer hora extra e saiu às 22:00.
Mais uma vez pegou o ônibus lotado. Veio em pé, mesmo com as pernas doendo devido a faxina que fez na casa de sua patroa.
Outro dia de serviço acabou, mas seus pensamentos não paravam de trabalhar. Tinha que lavar a roupa, fazer comida, ajudar os filhos com as lições de casa e finalmente descansar as pernas que estavam exaustas.
Pensava também em seu filho mais velho, o Ale.
"Será que ele está em casa?" Essa pergunta não saia de sua cabeça, não via a hora de chegar em casa para sentir o alívio de ver que seu filho ganhou mais um dia.
Mas aquele trânsito, as buzinas, as pessoas reclamando e a dor nas pernas faziam com que esse alívio ficasse cada vez mais longe e se transformasse em angústia.
Finalmente desceu do ônibus, agora tinha que subir o morro para chegar em casa. Para ela era a pior parte, pois ver aquelas pessoas comprando sua morte, outras carregando a violência na cintura e outras derramando de seus olhos aquela água que corta a face com a dor, deixavam seu coração sangrando.
Estava chegando no portão de sua casa quando viu uma multidão parada. Havia ambulância, policiais, gritos, choros e o desespero foi tomando conta de seu corpo.
Saiu correndo em direção à multidão. Ao chegar, parou...
Sua respiração era forte, seu coração rápido, sua mente vazia e seus olhos encheram-se daquela água que corta a face com a dor.
Ajoelhou, gritou, chorou e parou. O mundo? Pra ela acabou.
Naquela noite não sentiu o alívio, seu filho não ganhou mais um dia.


Jéssica Ramos Bastos

6 comentários:

  1. O que dizer dos seus textos? São cada vez mais impactantes. Deu para sentir em carne viva o que vc estava descrevendo. Transmitiu todas as emoções e sensações. E no fim, ainda faz com que a reflexão se torne profunda. Apenas admirando, pensando e sentindo. Não tenho palavras, Jé. Parabéns!

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  2. Jéh, obrigada pelo comentário em meu blog...Muito bom seu texto...principalmente esta parte

    "Saiu correndo em direção à multidão. Ao chegar, parou...
    Sua respiração era forte, seu coração rápido, sua mente vazia e seus olhos encheram-se daquela água que corta a face com a dor.
    Ajoelhou, gritou, chorou e parou. O mundo? Pra ela acabou."

    Você também escreve muito bem, aliás, estou te seguindo aqui.

    Um beijo e uma ótima noite

    M!sunderstood

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  3. Que bom que pude transmitir esses sentimentos em meu texto. Sentimentos que nunca senti, mas que posso imagina-los cortando o coração de uma mãe.
    Obrigada por acompanhar, Bia.

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  4. Obrigada pelo comentário M!sunderstood.
    É sempre bom saber o que as pessoas acharam de meus textos.
    Abraço,
    Jéssica.

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  5. Retribuindo a visita e encontrei um blog muito bom.
    Você realmente conseguiu me fazer sentir o que quis passar no texto, são poucas pessoas que conseguem isso. Você sente para escrever, seu texto é um sentimento em palavras.
    Esse texto me lembrou de uma família, que rezo por eles. Esse mundo é phoda.
    Abraços

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