sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Meu querido Herói

Minha mãe parada, olhando para mim, minha irmã chorando e eu... Bom, não me lembro o que estava fazendo, só me lembro da ira, das lágrimas e do silêncio que me dominou!
Ninguém pode entender o que passou pela minha cabeça, o sentimento que me dominou, nem eu mesmo consigo entender o que foi que aconteceu naquela noite. Vou tentar me lembrar da noite em que tudo mudou, mas antes vou contar o que me levou a fazer tudo aquilo.
Lembro-me de quando o sinal da escola batia, todos os meus amigos iam para suas casas com seus heróis, e eu sempre esperava o meu, com a esperança que ele ia aparecer para me buscar. Foram tantas manhãs de escuridão, de decepção.
Chegava em casa sozinho, e ficava mais triste em saber que o motivo pelo qual ele não apareceu para me buscar foi ela... A bebida.
Minha mãe tentava me consolar, me animar, mas eu via no seu olhar a tristeza, o desespero que ela sentia ao ver seus filhos ainda pequenos sem pai, com lágrimas no rosto ao saber que não tinha almoço, pois o papai gastou o dinheiro no bar do Zé.
Ele sempre chegava nervoso, mas nunca soube com que. Minha mãe tentava acalmá-lo com seu amor, com seu carinho, mas ele retribuía com tapas, com palavrões.
Tentava tirar ele de cima dela... Inútil. Minha tentativa só gerou socos em meu corpo. Mas o pior soco, era ver no rosto de minha mãe aquelas lágrimas escorrer, deixando feridas em seu coração.
Todos os dias eram iguais, nunca mudava, nunca recebi um abraço dele, um parabéns pelo meu emprego, um miserável sorriso.
Ele tirou tudo de mim, tirou minha infância, minha comida, meu sorriso...
Tudo isso me revoltava, pensava em alguma saída, em alguma forma de mudar tudo aquilo, em algum jeito de fazer minha mãe sorrir.
Percebi que não havia nada que eu pudesse fazer para devolver à minha mãe a felicidade, e aquela certeza me dominava de tal forma que perdi o controle de mim mesmo e fiz aquilo...
Não aguentava ver o inferno que minha mãe vivia, então resolvi não ver mais nada, tirei minha vida assim como meu querido herói tirou a felicidade daquela família.
Lembro-me de minha mãe parada, olhando para mim, minha irmã chorando e eu derramando minhas últimas lágrimas de sangue olhando para meu querido herói!


Jéssica Ramos Bastos

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

" O Rio de Janeiro continua lindo"

Altas horas da noite, não consigo dormir, minha mulher deitada protegendo nosso filho de apenas três anos, eu andando pela casa vazia e minha cachorra latindo naquele silêncio frio.
O vento batendo na janela quebrada entra pelo buraco que há, e faz um barulho agonizante, que nos deixa paralisados naquele lar inseguro.
Não sei o que é pior, aquele som oco que nos arrepia, ou aquele silêncio que nos agoniza.
O mar, o latido da cachorra, o barulho dos passos, o choro de Artur, a voz de minha mulher e o meu silêncio...
Como pode, em uma terra tão linda, com um mar divino, uma beleza única, existir tantos choros, tantas mortes, tantas noites de agonia?
Mais um momento de silêncio, não ouço nada, apenas o som oco daquela perdida encontrando a pessoa errada.
O mar, o latido da cachorra, o barulho dos passos, o grito de minha mulher, e o meu coração batendo, invadem minha casa, mas sem o choro de Artur. Mais uma vez a violência levou uma pessoa inocente.
Olho para o Cristo e pergunto, qual é o motivo de tanta violência, por que tantas pessoas inocentes se vão?
" O Rio de Janeiro continua lindo" ?

Jéssica Ramos Bastos

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Fada maldita

Minha história, como muitas outras, foi um pouco modificada para alegrar as crianças. Mas esse não é o verdadeiro significado que ela tem. Quero que minha história mostre o verdadeiro sentido que tem, deixando na memória de todos, o sofrimento que passei.
Um homem, sabendo que a história de uma pobre mulher negra não faria sucesso naquela época, transformou minha história em um conto feliz. Mas vou contar a verdadeira história, sem mágica, sem príncipe e sem sapatos.
Sou uma mulher negra, fui vendida para um fazendeiro branco, como diz no conto meu príncipe. Era obrigada a fazer serviços pesados todos os dias, e ainda tinha que aguentar as mãos pesadas de meu dono em meu corpo durante noite.
Suas filhas não podiam me ver parada, descansando minhas pernas que de dia sofriam com a faxina na casa e de noite sofria com a agressividade do sinhô.
Quando li o conto, encontrei uma coisa que era verdade. Os ratinhos eram meus amigos, eles me faziam companhia durante a noite quando tentava esquecer a minha vida naquele chão duro da senzala.
Quando contei minha história para o homem que escreveu o conto, disse que tinha um sonho, queria ser livre, ou esquecer, pelo menos por uma noite, todos os sofrimentos que passei, e não sentir as mãos de meu sinhô passando por mim.
Esse mesmo homem transformou meu sonho em uma carroça mágica, tinha até um vestido lindo para vestir na noite em que seria a mulher negra mais feliz, mas até minha cor ele mudou. Se eu tivesse contado minha história para Castro Alves ou para o Sérgio Vaz, talvez, pelo menos, minha cor seria verdadeira.
Dizem que esse dia chegou, que hoje sou livre ou que o sapato de cristal coube em mim. Não tenho tanta certeza, ainda durmo no chão, os ratos me fazem companhia e não tenho nenhum sapato de cristal. Mas uma coisa foi boa, não tenho mais que aguentar meu príncipe encantado me fazendo sua escrava nas noites frias em que só ele sente o calor do meu corpo.
Ah... Esqueci de me apresentar, meu nome é Cinderela.


Jéssica Ramos Bastos

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Positivo

Que alegria quando deu positivo, quando soube que uma criança estava crescendo dentro de mim, que eu iria ser responsável pelo nascimento de uma nova esperança para esse mundo.
Fiz tantos planos... Pensei no nome, fiquei imaginando ter uma criança, a minha criança, em meus braços.
Imaginei o sorriso angelical,o olhar sincero, as mãos tão frágeis, seu coração batendo, o choro desesperado, pedindo meu abraço para sentir-se protegido... Nossa, proteger alguém, como será que é ter esse poder de proteger um ser humano tão puro?
Nove meses sentindo você em meu corpo, sentindo você crescer, sentindo tudo por você. Nove meses de felicidade total, me sentindo completa com você pertinho de mim.
Um mundo tão cruel, tão injusto não destruiu a felicidade que senti naquela noite tão dolorosa, quando te coloquei no mundo.
Ter você no meu colo, me fez esquecer de toda a violência, de toda a sujeira que existe no mundo. Mas toda essa violência e sujeira que esqueci por algum tempo, você as fizeram presentes em minha mente por muitas noites.
Tudo o que senti durante nove meses, você destruiu em poucos dias. Meus planos desapareceram, o poder de proteger alguém acabou, não sentia alguém crescendo perto de mim.
Tudo mudou, não é como ter você dentro de mim. Seu sorriso que era angelical, tornou-se um sorriso frio, seu olhar sincero, tornou-se um olhar triste, suas mãos frágeis, tornaram-se mãos violentas ,e o seu choro... Você não chora...
Muitas noites pedi para que Deus tirasse você dessa vida suja, pedi que você nunca mais fizesse lágrimas caírem dos olhos das pessoas, que você não derramasse mais sangue pelo corpo de alguém, que de alguma maneira você não fizesse mal para as pessoas. Mas não imaginei que iria ser desta forma...
Mais uma vez, tudo mudou. Você não sorri, seus olhos estão molhados com lágrimas de desespero, suas mãos estão frágeis, você está em meu colo pedindo proteção... Mas eu não posso mais te proteger, seu coração não bate mais.


Jéssica Ramos Bastos

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Um cigarro

Três horas da madrugada, acordo com aquele barulho seco que tomou conta de todo este lugar sem esperanças.
Deito-me novamente, mas os pensamentos voam longe e não me deixam dormir. Penso em minha vida, penso se algum dia sairei deste lugar, se algum dia terei uma vida melhor, longe de tanta miséria.
Quando os tiros e meus pensamentos se calam , consigo dormir, mas não por muito tempo, pois outro barulho soa no ar daquele quarto de madeiras. Os gemidos de minha querida mamãe de 50 anos me atormentam e me fazem levantar.
Dona Joana, uma pobre senhora negra, escrava da miséria, que sofre fortes dores causada pelos socos da vida. Não há nada que eu possa fazer para tirar a dor daquela pobre mulher, então me levanto e acendo um cigarro e caminho até a janela.
Aqueles pensamentos de como sairei deste lugar não me perturbam mais, agora são outros que torturam minha mente. Penso em minha mãe, no trabalho que ela teve para me criar sozinha. Penso em sua vida sofrida, nas faxinas que ela teve que fazer para comprar um quilo de arroz e um quilo de feijão para me alimentar. Penso nas noites que ela enfrenta com dores e gemidos.
Queria tirar minha mãe deste lugar, dar à ela um lugar mais limpo, uma cama mais confortável e um cobertor que a aquecesse nas noites frias. Mas como vou tira-la daqui? Ganho um salário mínimo e ainda tenho que fazer hora extra para comprar os remédios dela.
Olho para o lado e me sinto pior,vejo o Biro na esquina, às três e meia da madrugada com outros caras colocando fogo na latinha de coca-cola e ao mesmo tempo em sua própria vida.
Fumo outro cigarro e vou deitar, afinal amanhã é dia de fazer hora extra para comprar o remédio de Dona Joana.


Jéssica Ramos Bastos

domingo, 4 de julho de 2010

Uma outra casinha

O papai me disse que vai ser só um pouquinho, que eu tenho que estar aqui para o meu bem e para o bem de algumas pessoas, como do meu irmãozinho e do meu outro papai. Ele falou que eu tenho que sempre estar forte, que eu tenho que ser uma boa menina, com o coraçãozinho bom e que eu tenho que ter muita paciência.
Todos os dias eu peço pra Ele me buscar, falo pra Ele que essa nova casa é muito chata e feia. Só tem gente chorando, criancinhas do meu tamanho com fome, famílias brigando... Um dia eu vi um garotinho fumando um negócio que tinha um cheiro ruim, depois ele ficou com o rostinho triste... coitadinho do menino!
Aqui tem uma tela grandona que as pessoas chamam de... como que é? Televisão! É, é esse o nome... Eles ficam horas e horas olhando pra ela e esquecem de tudo.
Quando passa desenho, é legal... Mas minha outra mamãe não brinca mais comigo, meu outro papai não conversa mais com a gente.
Não tem nada pra fazer aqui nessa nova casa... Eu fico o dia inteiro pedindo pro Papai me levar pra minha casa de verdade. Ele falou que ainda não está na hora, que eu ainda tenho que fazer algumas coisinhas aqui, que algumas pessoas precisam de mim, e que eu tenho que aprender algumas coisas aqui. Ele falou que eu vou ter que esperar mais um bocadinho.
Então tá... eu espero só mais um pouquinho ... mas Papai, não demora muito, tá bom? Eu quero ir pra casa...

Jéssica Ramos Bastos

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sentimento momentâneo

Estou aqui, sozinha nesse silêncio. Silêncio nessa sala fria e silêncio dentro de mim!
Essa agonia me invade o peito, me deixando inquieta, nervosa e triste...
Só penso em uma coisa, as outras o vento passou por mim, levou e deixou o frio comigo!
Preciso de você para acabar com esse silêncio, para tranformar a tristeza em paz e para me AQUECER, me fazer sentir o quente.
Cadê você?
Não sei...

“ Não sei qual foi o motivo ou sentimento que me fez escrever isso! Pode parecer besteira para alguns, mas para mim, é muito importante colocar esse sentimento desconhecido para fora... não importando a forma, seja escrevendo, gritando, chorando, cantando, pulando, rindo ou fazendo alguma outra loucura, mas sinto essa necessidade de me expressar de alguma forma, mesmo que seja sem sentido para alguns!”

Jéssica Ramos Bastos

sábado, 17 de abril de 2010

Existem pessoas que nos inspiram, que tem o poder de nos dar força e coragem para fazer coisas que duvidamos que podemos fazer!
O texto "Não", é dedicado à um amigo!("pequeno" =])

NÃO!

Não é fácil você colocar na mesa aquilo que você pensa e quer, você se sente pressionado, sente como se você não tivesse outra saída, a não ser dizer aquela palavra que te persegue, que não te deixa em paz e que você já não aguenta mais vomita-la: “SIM”!
Você está lá querendo estar aqui, você usa verde querendo usar azul, você diz sim querendo dizer NÃO!
Mostre seu modo de pensar, mostre seus VERDADEIROS sentimentos, mostre o que passa dentro de você, deixe que as pessoas vejam o que está no seu coração e que as pessoas saibam o que realmente você quer fazer de sua vida , desabroche sem medo algum, mostre que você tem voz!
Pense no sentimento que você sentiria passando por todo o seu corpo, tomando conta de você, te fazendo sentir aquela sensação de poder próprio, de dever cumprido se Você falasse NÃO na hora em que você disse sim...
Pode ser medo, pode ser dó, pode ser simplesmente uma decisão sem pensar ou pode também ser costume.
Não se acostume com aquilo que não te faz bem, que está te deixando impaciente, com a sensação de agonia, de estar no lugar errado. Não se acomode com essa situação indesejada!
Você tem o poder de mandar na sua vida, em você mesmo! Você é dono de si e autor de suas desições, então não venha me dizer que não consegue dizer um não, pois você estará cometendo o maior erro: enganar a si mesmo!
Quando você estiver cansado da situação, faça algo diferente, extravasa!
agir com um pouco de loucura é ser normal. não se preocupe se algo der errado, você ainda tem uma vida para contornar.
Às vezes, a solução para muitos problemas que temos, é fazer algo muito diferente, fora do nosso normal.
Assim fugimos do nosso cotidiano e da nossa realidade cruel, por mais que seja por poucos minutos... Esses minutos nos levam à lugares desconhecidos, que não vemos com os olhos do rosto, mas com os olhos do coração, que nos fazem pensar na vida e como sairemos de muitos problemas que nos seguem.
Curta o seu lado louco, deixe que ele tome conta do seu corpo fazendo com que você seja feliz.
Dança; Canta; Pula; Grita; Diga não; Diga sim; Beija; Bate; Sorria; Chora; Faça tudo isso e um pouco mais. A vida não é sem graça como aparenta...
depois:
Senta; Respire; Pense; Durma;Decida... Volte antes de ficar louco por completo!


Jéssica Ramos Bastos

terça-feira, 30 de março de 2010

"eu te amo....?"

As pessoas não sabem mais o valor e o significado que a palavra AMOR tem. Elas acham que é apenas uma palavra qualquer, que pode ser dita sem sentimento e cuidado algum. ninguém mais entende a magia, o poder que essa palavra obtém!
hoje, qualquer um, qualquer dia, em qualquer ocasião, estão fazendo uso dessa palavra!
*se você tem 11 anos e conhece uma pessoa, você diz- “eu te amo”.
Como uma pessoa de apenas 11 anos pode sentir esse tipo de amor? Não digo que a pessoa está mentindo, mas está sendo enganada pelos próprios sentimentos, está vivendo um sentimento ilusório! A pessoa de 11 anos, não tem maturidade para ter esse tipo de amor, não tem responsabilidade para manter esse amor!
*se você conheceu uma pessoa pela Internet, você diz- “ nha amor, eu te amo!” ¬¬
não digo que é impossível você amar uma pessoa que você conheceu pela Internet, mas os adolescentes de hoje, acham que só de você conversar com alguém pelo msn, só de GOSTAR da conversa que tem, é amor!
como pode amar alguém que você nunca viu, não conhece o seu jeito, seus defeitos? O amor não nasce só da pessoa falar que gosta de conversar com você, só de vocês conversarem. O amor nasce no dia à dia, nas dificuldades, quando você conhece seus defeitos.
*se você conheceu uma pessoa à algumas semanas na balada, você diz-“ eu te amo”
é o que mais está acontecendo ultimamente.
Quando penso nisso, fico simplesmente sem palavras, fico indignada em como o ser humano se tornou tão frio, tão vazio! FRIO! Fazer uso desse sentimento tão puro, tão sincero em vão!
não se sabe mais o que é amor!

"e hoje em dia, como é que se diz: Eu te amo.?"

Jéssica Ramos Bastos

segunda-feira, 15 de março de 2010

Na Janela

Apenas tentando encontrar algo que não sabe o que é.Algo que traga felicidade, paz e finalmente a resposta que vive em seu coração: Quem ou o que estou esperando?”
uma pergunta que está dentro de si. Uma pergunta que não se cala, que está faminta pela verdadeira resposta!
esperando, esperando e esperando...Não sabe quando chegará, não sabe o que chegará e não sabe nem se chegará algum dia, apenas com a esperança de que alguém se lembrará dela e a aceitará do jeito que é.
com aqueles olhos de criança, tão sinceros e puros, olhando pela janela, como se o sol estivesse chegando para aquece-la em um dia tão frio como aquele, como se o sol estivesse vindo para iluminar a sala tão vazia e fria em que se encontrava.
passando dias após dias em sua janela, apenas esperando...e nada! Parecia que ela nem estava lá, parecia q não tinha ninguém naquela janela tão escura!
por que ninguém a notava lá? Como podiam não enxergar aquela menina tão linda, pura, sincera, especial, meiga e única? Como não viam aquele brilho intenso de seus olhos, que pediam alguma paisagem para poder observar, aquele corpo ardente, que pedia alguém para saciar a sua sede , aquele coração tão puro que pedia uma companhia...como não viam aquela menina ali, em sua janela, pedindo um olhar?
ela estava no lugar errado, ou tudo estava errado?
a menina continua lá...com o mesmo olhar, a mesma sede e a mesma esperança...esperança de que algum dia o sol dela chegará!

Jéssica Ramos Bastos