domingo, 13 de novembro de 2011

Sinfonia de horror

- Cala a boca!
Com a arma na cabeça dela, grito em seu ouvido palavras que a faz tremer. Seu choro me desespera. Seu coração bate tão forte que acompanha o meu em uma sinfonia de drama. Parece uma competição de quem estoura primeiro. Mas seu desespero não a deixa perceber que estou com tanto medo quando ela, que estou desesperado para chegar em casa e dar um abraço em meu filho.
Parece que o tempo parou, não anda sequer um segundo e eu não aguento mais o choro dela.
- Cala a boca
Furioso, repito milhões de vezes a mesma frase. Nada faz sentido, nada muda, mas tenho que continuar...
Mas continuar o que, se tudo acabou?
Tendo prendê-las, mas minhas lágrimas correm como se estivessem fugindo de meus olhos. Não consigo pensar em mais nada.
Não foi o tempo quem parou.
Abaixo a arma, olho para ela e abaixo a cabeça.
Ela corre como se estivesse reencontrando a vida e eu continuo no mesmo lugar, sentado no chão naquela noite, como a minha vida sempre esteve.
Agora, ouço apenas meu coração, ele toca sozinho.

Jéssica Ramos Bastos

domingo, 4 de setembro de 2011

Corram crianças

Corram crianças, fujam enquanto há tempo. Escondam-se antes que ela as encontre, pois ela está atrás de vocês, esperando uma de vocês, uma criança inocente e indefesa.
Mães protejam suas crianças. Procurem algum lugar neste mundo que vocês possam escondê-las, onde exista alguma proteção, onde Deus possa ouvir suas orações, sentir o medo correr em seus corações e proteger seus anjos indefesos.
Ela está a solta sem coração, sem amor e sem piedade. Não importa sua idade, seu tamanho, seu sexo ou sua raça, ela está caçando suas crianças como um faminto procurando sua comida para saciar sua fome que aos poucos o mata.
Ela está se alimentando do ódio, do rancor e da dor. Mas ainda não é suficiente, ela quer nossas crianças. Então corram.
Não nos resta mais nada. Não há amor, não há carinho, não há ajuda e muito menos perdão. Muitos se vão por conta própria, outros ela os leva. Alguns se perdem dentro de si, como perderam a esperança em algum corpo morto. E os poucos que sobram acreditam que há um lugar em que ela não entra. É difícil acreditar neste lugar desconhecido vivendo em um lugar como este, tão cruel.
Como minha irmãzinha dizia: “Viver é cruel.” Sendo assim, só me resta um ato singelo:
“Pai, nos proteja de todo o mal que vive aqui. Proteja-nos de nós, do nosso ódio. Olhe por nós. E o mais importante, proteja nossas crianças. Leve nossas crianças daqui, deste mundo cruel e não deixe que ela, a impiedosa violência, as encontre. Amém!”

Jéssica Ramos Bastos

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Singelo convite

Seus olhos me chamam para o passado. Aceito o convite.
Vejo nós dois correndo pelo quintal, brincando e conversando. Esperando a noite chegar para ouvirmos aquela música que gostávamos.
Vejo aquele menino que eu tanto amava e que sentia orgulho. Queria ser como você, tão inteligente.
Continuo nessa viagem em seus olhos...
Cada imagem que vejo é uma dor que sinto. Cada palavra que ouço é uma lágrima que rola em meu rosto sem destino.
Tudo aquilo me dá um momento de felicidade, mas sinto como se algo me puxasse, ouço alguém me chamando... É a realidade que me chama e tira aquela alegria de mim.
A nova imagem que vejo, é você sentado ao meu lado como se não fosse você e aquele silêncio que me faz companhia.
Sinto aquela tristeza invadindo o meu ser, me convidando para ver um outro passado. Não quero aceitar o convite, mas já sou sua escrava e vou com ela.
Vejo a imagem de alguém magro, feio. Não consigo reconhecer, é com se fosse um estranho na minha casa. Acompanho essa pessoa.
Ela entra em um beco escuro e frio. Sinto um calafrio, mas continuo seguindo.
Tento chamá-la, mas ela não me ouve e continua andando.
Consigo alcançá-la, olho para seu rosto e levo um choque. Aquela pessoa feia, magra com uma aparência carregada é você... O choque é tanto, que volto à realidade com lágrimas no meu rosto e você me observando.
Olho para seus olhos, mas nada vejo.
Queria viver na viagem de seus olhos...


Jéssica Ramos Bastos

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Camisa de Vênus

É tão triste ler essas frases que me matam a cada sílaba formada.
Primeiro leio o meu nome, está correto.
A vontade de voltar o tempo é tão grande que ás vezes me iludo pensando que tudo está bem, que tudo voltou a ser como era antes. Mas logo me vejo vomitando, e a ilusão vai embora com a descarga.
“ Não tem como voltar no tempo, agora você tem que enfrentar tudo o que está por vir com toda a sua força.” Oh, palavras hipócritas. Oh, pessoas hipócritas. Não sabem o que falam. Não sentem a dor gigantesca que vive dentro de mim. O que fariam se a sentisse?
Olho para aquele papel... Como queria que ele não existisse.
Não é apenas mais um papel que jogarei fora assim que terminar de usá-lo. Nele há a resposta, a minha resposta, que não poderá ser reciclada junto com o papel.
Quem diria que por um amor, a morte iria me encontrar?
Ela me segue a cada passo que dou, a cada suspiro. Ela dorme ao meu lado como ele dormiu aquela noite, só esperando um espaço que a vida der para que ela possa atacar.
Resolvo abrir aquele papel e acabar com tudo isso...
Surpresa? Não, já esperava.
Positivo, a morte me encontrou.

Jéssica Ramos Bastos
Escrevi este texto no dia 03/03/2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pesadelo

Levanto-me ouvindo choros e gritos. Minha respiração ofegante e uma grande agonia dentro de mim. Apenas mais um pesadelo.
Esfrego os olhos, vejo tudo embaçado. Olho-me no espelho, vejo-me magro e feio. Lavo o rosto e caminho até a janela. Mais um dia de chuva.
Continuo me sentindo mal. Tento lembrar-me do pesadelo, mas está muito confuso... Lembro-me de uma mulher chorando, uma criança gritando, gente desmaiando. Tento esquecer, mas uma dor repentina me faz gritar. Sinto um baque, minha cabeça dói.
O que está acontecendo? Vejo tudo rodar.
Acho que bebi de mais ontem... Mas onde eu estava ontem?
É isso, eu saí e bebi mais do que deveria, por isso a dor de cabeça.
Deito-me novamente para esquecer o pesadelo e a dor de cabeça. Mas tudo roda novamente. Ouço novamente o grito de criança e o choro daquela mulher desesperada.
“Quem são vocês?” Faço essa pergunta mais de uma vez, mas ninguém me responde.
Aquela dor de cabeça já está me fazendo delirar.
Novamente aquele baque. Aquele barulho que invade meu ouvido.
Um homem... Quem é?
Sou eu! É aquele pesadelo...
Estou atrasado, tenho que tomar café.
Passo pelo quarto de minha mãe, mas está tudo estranho. A casa está diferente, não tem mais retratos... Acho que minha mãe tirou para limpar.
Passo no quarto de minha filha, dou um beijinho nela. Ela está dormindo.
Fico alisando seu cabelo e lembro-me de sua mãe... Como sinto falta dela.
“Bom dia mãe.” Que estranho, ela não me responde. Por quê?
Ela está chorando... “Mãe?” Silêncio.
Acompanho ela até seu quarto, sento-me em sua cama. Mas ela não me vê.
“Mãe, fala comigo. O que está acontecendo?”
Aquela dor novamente me domina. Caio no chão e aquele baque novamente. Os gritos... Os choros... O que está acontecendo?
Vejo aquele homem deitado no chão... O pesadelo?
Ouço minha mãe falando comigo, pedindo para eu ficar bem...
“Mãe, eu estou aqui. Ajude-me.”
Minha filha entra no quarto chorando. Por que esses choros?
“Vovó, eu quero o papai...”
Mas o que está acontecendo? Eu estou aqui, filha! Olhe para mim...
Tudo gira, tudo dói, sinto a agonia, a vontade de... Morrer?
Não! Não pode...
Lembro-me de ontem. Eu estava chorando, com saudade de minha mulher.
Oh, meu Deus!
Caminhei até a ponte... Fiquei olhando paro o céu, queria voar. O céu estava nublado, mais um dia de chova.
Olhei para o chão, e... Sinto novamente aquele baque.
Eu pulei!


Jéssica Ramos Bastos

quinta-feira, 3 de março de 2011

Deixa a chuva cair

É uma agonia infinita que toma conta de meu coração. Não consigo ouvir minha querida mãe. Leio em seus lábios: “Não me deixe...”.
Ouço todas as buzinas, todas as pessoas conversando. Olho para o lado e vejo os pés das pessoas que estão me olhando. Olho para cima e vejo aquele céu nublado, sem cor, como minha vida.
Minha vida vazia, sem um sorriso, apenas lágrimas... Lágrimas de uma mulher trabalhadora, que agora segura minha mão e pedi para eu voltar.
Sinto o chão como nunca senti antes, tão perto de mim. Vejo-me coberto de sangue e lágrimas.
Grito dentro de mim, imploro por ajuda... Inútil, ninguém me ouve, apenas eu mesmo.
Aquele orgulho roubou minha alma. Não me deixou pedir ajuda, socorro!
Para mim não tem mais solução, não posso pedir ajuda.
Sinto minha mãe largando minha mão.
Olho pra cima e acompanho a chuva cair em meu rosto. Mas não consigo mais senti-la. Acho que ouviram o meu pedido de ajuda.


Jéssica Ramos Bastos

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Lembranças envelhecidas

Deitada em meu quarto, com o vazio que se encontra dentro de mim, que você deixou, tento lhe encontrar em algum lugar dentro de mim ou até nesta casa fria. Mas não encontro... Nada encontro!
O único lugar que posso lhe ver, é em minhas lembranças... Lembranças velhas, já amareladas, com falhas devido ao tempo que passou, mas que ao lembrar, vejo cada sorriso que dei ao seu lado, sinto cada abraço que ganhei e ouço cada “eu te amo” de sua boca.
Lembro de seus olhos esverdeados, cheios de brilho, de vida. Agora estão mortos, fugindo de algo, parece que fogem de você.
Lembro de suas palavras... Tão sábias. Agora nem as ouço.
E o que falar de seu sorriso?
Tão sincero... Onde eles estão agora?
Seus abraços me davam segurança, me protegiam de noite, de meus pesadelos. Agora sem eles, me sinto perdida dentro de mim, dentro desse enorme vazio que mora comigo.
O tempo passo, e tudo mudou!
Sim, eu cresci...
Sim, você envelheceu...
Mas não foi só isso que aconteceu. Você se foi... Você me deixou,pai... Você se deixou e foi embora para um lugar que só você sabe!
Só peço uma coisa, volte pra casa... Volte para você!


Jéssica Ramos Bastos